Fiquei realmente feliz com as respostas sobre o primeiro texto. Não esperava os comentários por aqui e pelas minhas redes pessoais, e eles me motivaram a voltar e escrever mais um pouquinho. Um deles, em especial, me deixou pensativa:
"Eu fiquei meio tímido lendo as ‘intimidades' de uma desconhecida, como se lesse o diário de alguém."
Achei curioso, porque dias antes, eu twittei isso aqui:
- Você se expõe muito
- Sim, tô aqui pra isso(As duas vozes são minhas)
A verdade, caros leitores, é que eu sinto um frio na barriga antes de clicar em "Publicar" certas coisas nessa internet. Afinal, não existe nenhum controle sobre quem vai ler, como vai ler, com o que vai comparar, o que vai pensar, como vai me julgar... E sim, digo "como", porque é inevitável atribuirmos adjetivos a tudo, sejamos sinceros.
Para quem curte as simbologias da astrologia (que não é uma pseudociência porque nem tenta ser ciência, mas isso fica para outro texto), sou leonina com ascendente em escorpião. Meu modus operandi com pessoas não próximas é ficar na minha, não ser invasiva, não me expor. Digamos que as meninas populares do colégio fizeram bem seu papel em me fazer sentir publicamente humilhada, mais de uma vez.
Mas tem esse bichinho que me morde e me faz quebrar essa barreira para me expressar. Primeiro, porque EU elaboro as coisas conforme escrevo ou falo (amigos, desculpem pelos podcasts no WhatsApp, amo vocês). Segundo, porque eu atravessei inúmeros limbos lendo as palavras de outras pessoas, que me faziam sentir menos sozinha, menos estranha, menos louca. E gosto de "devolver" isso para o mundo de alguma forma.
E falando em atravessar limbos... tem uma frase que eu amo e sempre recupero na memória quando sinto que estou querendo me entregar para o escapismo ou a inércia:
The only way out is through.
A tradução tira um pouco da magia, mas seria algo como: "a única saída é através". Se tem uma coisa em que eu tenho melhorado infinitamente nos últimos anos é aprender a identificar, acolher e respeitar os meus limites e minha saúde mental. Parar de ignorar as red flags. Parar de me calar diante do que não concordo. Parar de subestimar os gatilhos e o custo emocional de passar por cima do que eu sinto, para não desagradar as outras pessoas, numa tentativa falha de preservar a imagem sorridente, boazinha, sempre disponível, sempre controlável que quase todo mundo construiu de mim.
Fácil não é. Mas o que é fácil de verdade nessa vida? Até homens brancos, héteros, cis e herdeiros devem ter lá suas dificuldades. O fato é que chega um ponto em que fazer esse trabalho de autorrespeito se torna necessário. Quase uma questão de sobrevivência.
Aprender a, em vez de resistir e brigar com a sua dor, como aquele mosquito inconveniente que entrou pela janela do quarto bem na hora de dormir… apenas observá-la. Talvez até servir um café para os pensamentos pesados. Sabendo que eles são só outra parte de você, aquela cheia de traumas, que precisa de um pouquinho de atenção e depois vai embora. Como um beija-flor, só que menos bonito.
É claro que podemos usar de analgésico aquela série gostosa da Netflix, aquela música que nos leva a níveis transcendentais, aquela conversa com uma pessoa querida, aquele sashimi delícia. Mas tendo a consciência de que isso é apenas para tornar o mar mais calmo ou tentar acelerar o vento, e não como um trampolim para pular do barco.
Porque a vida é meio como aquele jogo Journey (f* os colonizadores, não serão heróis aqui): estamos todos atravessando alguma coisa que não sabemos muito bem o que é.
O que eu tô descobrindo?
Saiu a segunda e última temporada de Guia Astrológico Para Corações Partidos, série italiana com a melhor trilha sonora e os personagens mais fofos. São episódios curtos, leves, que brincam com estereótipos dos signos e conectam com a história, mas sem forçar a barra. Perfeita para maratonar num fim de semana caído ou assistir em doses homeopáticas naquela semana cheia de trabalho:
O que você tá sentindo?
Conta pra mim o que você achou desse texto, das dicas, se tem alguma coisa que você queira ver por aqui... Sou toda ouvidos.
Lembrando que o le disperser na verdade é uma newsletter, então se você quiser receber os próximos textos, cadastra seu e-mail. Prometo não mandar spam. É só para eu não precisar ficar divulgando no Instagram para quem não tem interesse, e a gente dispersar num lugar mais... reservado. :)
Obrigada mais uma vez pela companhia, e uma ótima semana por aí. Final de ano astrológico é tempo de fazer aquela retrospectiva e começar a mexer no que você quer mudar - fica a dica.
Um beijo e até a próxima,
Luane.
Sobre Publicar, é preço de se expor, sei que é duro, já que tem uma galera com foto do GOKU ofendendo todo mundo. Mas faz parte do jogo da modernidade, claro que é um jogo que ninguém é obrigado a jogar, mas a todo momento somos empurrados a ele.
Sobre isso recomendo ler o livro 24/7 [Jonathan Crary].
"Não se calar ao que te incomoda" deveria ser ensinado na escola, não que devemos viver em combate com tudo em volta, apenas precisamos dizer não para o que nos machuca e nos deixa para baixo.
Pera ai, você é de Leão. Signo do Mick Jagger.
O cara é a luz e magnetismo em Pessoa.
Vou indo, foi um prazer te ler e reler (te li as 3:45 e depois agora as 11:17)
Eu entendo esse frio na barriga perfeitamente. Não sei quanto a você, mas sinto que minha timidez ou mera adversidade à exposição pessoal, por mais existente, não é abrangente na internet, sabe? Eu não tenho muito receio de me expor por saber que poucas pessoas que me conhecem, se não ninguém mesmo, vai ler. Claro, até agora pelo menos, porque sempre usei nomes artísticos e pseudônimos, agora preciso encarar o botão de publicar muitas vezes. Se esse site não salvasse o que escrevemos haha, eu não teria conseguido.
Uh, colégio. Todos temos nossa cota de acontecimentos por lá, né? Eu diria, porém, que não fui tão afetado, mas entendo o quão ruim isso pode ser.
Sabe, se sentir sozinho ou único na internet é praticamente impossível (e isso não é sempre bom). Fico feliz que empatize com outros e isso te impulsione, afinal, é um ciclo sem fim nesse sentido.
Dar atenção para traumas me lembra de quando eu li "Oyasumi punpun" (recomendo, mas já está avisado que é pesado). Eu não tenho um bom hábito lidando com traumas. Sempre fui fã de 'exposição gera entendimento', pelo menos para eu mesmo, haha nunca estive tão errado, acho, foi invasivo e corroeu minha mente.
Achei interessante como pensa a respeito disso e lida com isso, você parece mais pacífica consigo, como se, com o tempo, foi refinando esse conceito. É sempre assim, né? Pelo menos acho, nunca temos a melhor ideia ou solução logo de início, não para um problema tão complexo quanto nós mesmos.